sexta-feira, 10 de junho de 2011

A virgem e o unicórnio.

Caminhando entre as grandes árvores do bosque, eu podia sentir o cheiro de ar limpo adentrando minhas narinas enquanto a neblina tomava conta daquele local, deixando-o levemente sombrio e extremamente interessante.
Descalça, meus pés tocavam as folhas jogadas ao chão, ainda molhadas de orvalho da manhã. Os pássaros, o assovio do vento, os ruídos dos animais em meio a floresta me deixavam tranqüila.
Sentei-me então perto de uma árvore imensa, deveria ter décadas pela sua altura, largura e estrutura.  Continuava firme e forte depois de tantos anos.  Era incrível.

_ Queria eu ser como essas árvores... – Sussurrei, como se pensasse alto.
_ Talvez você possa ser. - Aquela voz calma, tranqüila, porém firme invadiram meus ouvidos. Fazendo com que meus olhos se tornassem ágeis o suficiente para olhar diretamente para uma árvore velha, caída e sem folhas que havia logo mais a frente. Havia alguém ali atrás, que não queria ser visto.
_ Acho que não. Digo, posso até ser, mas... Uma árvore, como esta onde você luta para se esconder. - Movi minha cabeça pro lado, na esperança de ver o dono daquela voz. Sem sucesso. Por mais velha e sem vida que aquela árvore fosse, ela continuava a ser um empecilho para que meus olhos encontrassem o que tanto procuro.
_ Creio que possa ser quem quiser se deixar a natureza seguir seu curso, ao invés de correr contra suas próprias mudanças.
_ Que diabos está a dizer?
_ Posso sentir de longe o cheiro de medo percorrendo suas veias. Assim como o borbulhar de raiva que está em sua mente.
_ O que isso quer dizer, afinal? – Bati as mãos nas minhas próprias coxas, impaciente.
_ Quero dizer, que... - Antes que terminasse a frase, pude observar um ser estranho sair de trás da árvore. Parecia um cavalo, porém, havia um chifre “rinocerontico” em meio sua testa. Suas patas moviam com agilidade em meio as folhas, e seu corpo parecia tão ágil quanto tais, correndo entre as árvores até que deitou-lhe ao meu lado como um animal a procura de colo. Senti sua cabeça pesada tocar meu corpo. O medo percorreu minhas veias. Meu coração parou. Não era medo. Era satisfação. Gaguejei. Busquei palavras. Nada saiu. Que sensação estranha, intensa que um animal como esse podia trazer ao tocar-me?
_ Continuando.. Quero dizer que posso sentir que você veio aqui fugir dos seus problemas, das suas mudanças. E creio que agora está com medo por ter um animal esquisito, selvagem aparentemente em seu colo.
_ Você não é selvagem. És doce, és meigo. É o animal mais lindo que já vi. Só fico me perguntando como tu podes falar? - Encarei os olhos enormes daquele animal esquisito, enquanto minhas mãos deslizam pela crista lisa de tal. Até que voltei a mão, tocando aquele chifre fino que mais parecia um cone.

Não houve resposta. Não havia animal.
Era apenas mais um sonho estranho que tive ao encostar-me naquela árvore.
Era apenas mais uma ilusão maldita da minha solidão gritante.